sábado, 18 de junho de 2016

Cabaré, Brasil!


As atenções e emoções estão no seriado estrelado por Sérgio Machado — o “Cabaré Brasil”, onde falta mocinho e sobra bandido
Luiz Antonio Novaes - O Globo
Na semana em que o governo Temer completou seu primeiro e tumultuado mês, Meirelles estava escalado para vender ao Congresso o teto de gastos públicos e colocar finalmente a economia em primeiro plano — só que não.
A divulgação oficial na quinta-feira dos vídeos da delação de Sérgio Machado e filhos enfatizou como nunca a denúncia de envolvimento direto de Temer em pedido de R$ 1,5 milhão, oriundo de propinas da Transpetro, para campanha de Chalita (o agora queridinho do petista Haddad) à prefeitura de São Paulo em 2012.
Depois de negar as acusações por escrito, Temer subiu o tom e, ao vivo e em cores, chamou o ato de Machado de “irresponsável, mentiroso, leviano e criminoso”. Não explicou nada, mas terminou apostando alto. “Alguém que teria cometido aquele delito (...) não teria condições de governar o país”.
Há poucos dias, Sarney nem imaginava — ao classificar, no grampo de Machado, a futura delação da Odebrecht de “metralhadora .100” — que seria seu interlocutor e velho amigo quem fuzilaria primeiramente os políticos, a começar pela cúpula do PMDB, irrigado com mais R$ 100 milhões.
No total, Machado alvejou 26, incluindo nomes do PT, PP, PCdoB, PSB, DEM e PSDB. E derrubou mais um ministro de Temer — Henrique Alves, o terceiro pego na Lava-Jato. Além de rotular Renan Calheiros — que assume o lugar do quase cassado Cunha ao ameaçar Janot de impeachment —, como campeão do propinoduto, com direito a mesada de R$ 300 mil, a partir de 2008.
É interessante lembrar que em dezembro de 2007 Renan renunciou à presidência do Senado num acordo, apoiado por Lula, para salvar o mandato — depois do escândalo extraconjugal com Mônica Veloso. Nesse caso Renan é acusado de receber propinas da Mendes Júnior, cujo lobista teria pago despesas pessoais de Mônica.
O processo está no STF, prestes a ir a plenário, ao lado de outros dez da Lava-Jato. Enquanto não vem a temida delação da Odebrecht ou da OAS, que atingiriam sobretudo Lula e Dilma, é o governo provisório do PMDB que vai perdendo horizonte.
Outra acusação de Machado muito incômoda para Temer é a que afirma ter ele reassumido a presidência do PMDB em 2014 “visando controlar a destinação dos recursos do partido”. Isso teria ocorrido após o PMDB da Câmara reclamar da doação de R$ 40 milhões do grupo JBS, “a pedido do PT”, só para o PMDB do Senado.
A JBS investiu R$ 361 milhões nas eleições de 2014, valor equivalente à soma das contribuições oficiais das cinco maiores empreiteiras pegas no petrolão da Lava-Jato. Do total, R$ 115 milhões da JBS foram para o PT, R$ 61milhões para o PMDB e R$ 56 milhões para o PSDB.
A gigante da carne contribuiu para 162 deputados. Em fevereiro último, a CPI do BNDES, que detém 27% do capital do frigorífico, terminou sem que este fosse sequer ouvido. Dos 27 membros da CPI, 20 haviam sido apoiados pela empresa — cuja holding Meirelles presidiu até virar ministro da Fazenda de Michel Temer.
O terremoto político em nada abalou o impeachment de Dilma no Senado, que se arrasta em capítulos mais do que repetitivos. Nem os novos atores, os rivais Zé Eduardo e Janaína, foram capazes de provocar empatia do telespectador com as brigas de sempre do novelão.
Por enquanto, as atenções e emoções estão no seriado estrelado por Sérgio Machado — o “Cabaré Brasil”, onde falta mocinho e sobra bandido.

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